sexta-feira, 9 de julho de 2010

Samaritano

Senhor,

“Quem é o meu próximo?”
Pergunto-Te isto para justificar o que não faço, porque conheço a resposta. Sei que o meu próximo é quem faz comigo o caminho, quem me ajuda a levantar quando me derramo no chão, quem me olha nos olhos e me diz
- coragem!
E Tu, Senhor, fazes-me a pergunta ao contrário:
“Quem é o teu próximo?”
E eu calo-me. Porque não Te vejo na estrada, porque tenho de ir à minha vida, porque tenho medo que me façam mal, porque não quero sujar o fato, porque vou para Jerusalém e rezo e pronto.
Mas Tu continuas:
“Quem é o teu Próximo?”
O meu silêncio esconde a vergonha de ter passado ao largo como o sacerdote da Parábola, de olhar em frente como o levita. Esconde a vergonha de não Te ter reconhecido no homem que dorme no portal da rua, no homem que afoga a solidão num copo, no homem que morre sem que ninguém lhe segure a mão.
Pergunto-Te, então:
-“E agora, Senhor?”
E Tu que me conheces, voltas a falar-me de Amor, de Misericórdia, de um Samaritano que interrompeu a sua viagem para ajudar o homem que estava no chão. E dizes-me:
“Vai e faz o mesmo” (Lc 10, 37).
Eu quero dizer-Te que sim. Que vou fazer o caminho. Que vou olhar para os que estão na estrada. Que vou embalar a sua dor no meu colo. Que sei que és Tu que estás ali.
Quero dizer-Te que sim. Ajuda-me a não fugir. Ámen.

Graça Alves

Sem comentários:

Enviar um comentário