É então que a força das vozes rasga a cidade e se fala de Pão, de Corpo, de Vinho, de Sangue. É então que o milagre se dá e o olhar de cada um se pousa no altar onde a Fé rec
onhece o rosto invisível de Deus.
O céu desce na calma da tarde. No partir do pão, no abençoar do vinho, faz-se a Memória de outra Quinta-feira, de uma Ceia (quase) final, de um Homem que, por amor, se entregou “até ao fim” (Jo. 13). Faz-se Memória de outra tarde em que, com cinco pães e dois peixes, se alimentou cerca de cinco mil homens e “todos comeram e ficaram saciados” (Lc.9, 17). Faz-se Memória.
Mas a vida corre demasiado depressa e não dá tempo para lembrar. Em Festa de Corpo de Deus é preciso parar, deixar que o olhar se embebede da poesia da terra e que o coração se pouse nas margens do céu. Porque temos fome, outra vez. Porque nos esquecemos de encher a nossa vida com amor, porque já não reconhecemos o rosto de Cristo no partir do pão, porque não apertamos as mãos que connosco partilham o vinho, porque nos guardámos em nós e não temos nada para partilhar.
Jesus apresenta-se como Pão. E nós continuamos com fome. As nossas mesas têm outros nomes e estão vazias. Pedimos pão para um, para mim, porque cada um se fez deus do seu altar.
Temos fome. Precisamos de Pão, do que é feito de muitos grãos, do que morre na terra para depois renascer, do que se parte para oferecer, do que se pede assim: “O Pão-nosso de cada dia nos dai hoje”.
Graça Alves
(in JM 2/6/)
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