quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Um olhar sobre a Quaresma

Um olhar sobre a Quaresma

Tirar a máscara. Deixar-se olhar pelos olhos do espelho. Escolher silêncios para acompanhar as palavras. Não ter medo de mudar a direção do olhar. E deixar-se esvaziar do que não interessa. E pronto. Depois? Depois é deixar-se embebedar por assuntos como Amar-se uns outros ou Dar a vida pelos amigos ou Viver como se, em cada momento, se tivesse a obrigação de ser feliz.
Tirar a máscara é perceber a poesia da verdade, a luz que os olhos derramam quando se esticam num sorriso e os lábios desenham um
-meu amor,
que é sentido.
A quaresma é o tempo de perceber a poesia da espera, do jejum e da abstinência. E morrer para o que nos estraga a saúde, a liberdade, a capacidade de sermos nós e de merecermos o nosso encontro com a Páscoa. E redesenhar a vida, conhecendo a pequenez de quem somos, esse pó de que somos feitos, mas que tem, por dentro, um sopro de Deus.
Esta é mais uma oportunidade para redefinir o nosso dia. Assim: dando valor ao sol e à chuva, apreciando a confiança dos amigos, guardando os silêncios do céu, descobrindo as flores que as pedras escondem no chão dos nossos desertos. A quaresma é o tempo de preparar a invenção de um mundo novo, sem fome, sem medo, sem desalento, sem angústias. É preciso reencontrar a música da nossa humanidade. E deixar que a mudança verdadeira a torne mais divina.
Tiramos a máscara. Olhamo-nos ao espelho. Jejuamos do que não é preciso. E descobrimos um sentido para continuar a viver.
Aprendemos a esperar. A quaresma é um estágio do deserto. Preciso que me acompanhe nesta travessia. Juntos, vai ser mais fácil encontrar o caminho de volta. Há luz. Vê? Sem a máscara, é muito mais fácil de a seguir.


Graça Alves

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